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Hospital Unimed Alta Complexidade
Ana Flávia Antonio, Carolina Chedraoui, Eduardo Nishitani, Eduardo Zani e Francine Vaz
Apresentaremos abaixo a etapa de Estudo Preliminar do Projeto de Arquitetura do Hospital de Alta Complexidade Unimed.

Aqui você encontrará todo o conceito e condicionantes consideradas para a concepção deste projeto, como sua localização, acessos, setorização das unidades, fachada, entre outras informações para a melhor compreensão como um todo.

CONCEITO

O Edifício de Saúde é um dos mais complexos da atualidade. Uma de suas características é a transformação e volubilidade natural inerente ao setor da saúde. Cabendo à arquitetura, reconhecer que o hospital como se conhece hoje percorreu um árduo caminho de transformação, acúmulo de funções e expansões de seus objetivos e assim traduzir isso no uso do espaço. Conforme citado por Mendes (apud ALMEIDA, 2004), é um grande desafio planejar um hospital do zero, lançar sua estrutura, organizar sua setorização e garantir que os fluxos de um edifício tão plural e multidisciplinar como este, estejam devidamente ordenados. 

Segundo Camelo, Souza e Bitencourt, (2021) alguns pontos são essenciais no planejamento de um edifício hospitalar. A expansibilidade, a flexibilidade, a contiguidade, a racionalização, a humanização, a acessibilidade, a sustentabilidade, a plasticidade, a valência, a conformidade, a funcionabilidade e a segurança do paciente são diretrizes básicas a serem seguidas.  

Já conforme o arquiteto Toledo (2020), com o surgimento do edifício placa-torre no modelo terapêutico, o foco generalizado na assepsia transformaria os espaços e estes seriam cada vez mais reduzidos a meros abrigos de processos assistenciais ao invés de agentes colaboradores para a cura. Contudo, reconhece que exemplos como João Filgueiras Lima, o Lelé, e diversos outros ao redor do mundo, trazem a retomada dos espaços banhados pela luz e ventilação natural como outrora recomendou a fundadora da enfermagem moderna, a enfermeira Florence Nightingale.  

O modelo dos hospitais contemporâneos busca com sua “anatomia”, privilegiar as condições ambientais e conferir qualidade ao espaço aliados à eficiência matemática de um conceito enxuto sem esquecer que, como colocado por Bross (2021), o hospital é um edifício que além de tudo, também abriga um negócio que precisa ter uma visão estratégica para ser sustentável em relação ao custo e benefício de sua operacionalização. 

Para a proposta do hospital foco do estudo, além dos conceitos citados acima, também foi utilizado em sua setorização conceitos da arquitetura sistêmica, que propõe dispor as unidades assistenciais levando em consideração os níveis organizacionais e suas criticidades em uma cadeia crescente de complexidade conforme o usuário se aprofunda na edificação.  

Os blocos foram dispostos de forma a garantir que as circulações otimizadas do edifício norteassem a concepção do projeto de forma a respeitar o que é público em contraponto ao que é considerado privado, ou seja, tudo o que é destinado a serviço e operação, é considerado privado, enquanto a circulação pública, é de livre acesso e permite que cada visitante, paciente ou acompanhante ocasional saiba onde está e por onde ir e que os mesmos não tenham acesso ao “back stage” do hospital.  

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Figura 1. Distribuição da complexidade pelos conceitos de arquitetura sistêmica - Fonte: produção própria.

O usuário foi colocado em primeiro plano durante todo o planejamento, buscando produzir espaços que colaborem com o tratamento terapêutico. Conforme cita Bross (2021), as atividades assistenciais e cuidados que compõem o horizonte da assistência à saúde baseiam-se no princípio de que todos os indivíduos sofrem agressões em suas condições psicossomáticas provocadas pelo ambiente seja ele natural, espacial ou social e reforçado por Gonçalves (2018) que explica que os espaços deixam de ser percebidos com neutralidade, uma vez que, habitando o espaço, somos bombardeados por estímulos que evocam lembranças, emoções e memórias.  

Recorreu-se também à estudos de Neurociências aliados à arquitetura para ampliar o horizonte de soluções adotadas para melhorar a experiência do usuário. Neste hospital foi possível aplicar alguns conceitos pensando no bem-estar de todos os usuários da edificação, entre eles o conceito de ciclo circadiano percebido pelo corpo, Wayfinding no senso de localização de cada usuário, Biofilia e relação entre interno e externo uma vez que todos os principais corredores são inundados por janelas sempre que o usuário percorre o hospital. Estudos como os citados por Strong (2012) em sua revisão bibliográfica, demonstraram que comparando o tempo de recuperação dos pacientes, os que tiveram acesso a luz natural apontaram um tempo menor de recuperação e menores complicações futuras.

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Figura 2. Pátio Interno. - Fonte: produção própria.

Mas não apenas os pacientes, um estudo recente do Future Workplace, constatou que os humores e rendimento dos funcionários podem ser afetados negativamente com a falta de luz natural e percepção entre dia e noite. Por isso foi incorporado como um partido para o projeto, os pátios internos com jardins terapêuticos que irão contribuir para a entrada de luz natural em todos os quartos de internação, UTI e corredores internos de circulação social e de serviços. Dessa forma, fica estabelecido uma relação em que a paisagem exterior passa a fazer parte do hospital, possibilitando distrações positivas e aprimorando o ambiente terapêutico. 

LOCALIZAÇÃO

O novo Hospital de Alta Complexidade da Unimed será inserido no Biopark, um bairro que pela própria natureza estimula e favorece a busca pelo conhecimento, desenvolvimento científico e estabelece um horizonte de inovação exemplar. Em um terreno com dimensão de 20.000m², rodeado de outros equipamentos urbanos, como Universidades, Laboratórios, Centros de Pesquisa e Indústrias Farmacêuticas, é essencial que este hospital responda ao seu entorno e colabore com ele.  

Afastado com um grande recuo frontal, semelhante ao estabelecido pelos outros equipamentos urbanos e com gabarito semelhante aos mesmos edifícios do gênero, este hospital não surge para romper ou chamar a atenção. Mas sim, para respeitar e se comunicar com a paisagem de modo dinâmico e tecnológico.

Outro ponto essencial para a escolha da locação da edificação, foi a orientação solar trazendo maior conforto para os ambientes internos e a topografia do terreno de forma a garantir todos os acessos necessários e aproveitando a esquina do terreno para dar destaque e criar um espaço convidativo para o empreendimento como um todo. 

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Figura 3. Locação esquemática da edificação no terreno Fonte: Montagem sobre imagem google Earth.

IMPLANTAÇÃO

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Figura 4. Implantação Fonte: Autoria prória - Pró-Saúde

Na implantação do Hospital, é possível observar como a locação da edificação no terreno permite a setorização dos acessos por públicos diferentes. Foi projetado um acesso exclusivo para ambulância com rápido acesso pelo retorno na Avenida Max Planck, facilitando a chegada do paciente transportado na unidade. 

Evidenciando a esquina da edificação, foi criado o acesso de veículos de pacientes na Av. Marie Curie que possibilita um desembarque do paciente direto na recepção principal e também direciona o fluxo para que o paciente consiga estacionar de forma rápida e próximo as entradas principais. Ainda na Av. Marie Curie ao fundo do terreno está localizado o acesso de veículos de serviço e acesso de estacionamento de médicos e colaboradores. 

Outro ponto que vale citar, foi a criação de uma praça no terreno de propriedade do hospital atuando como equipamento de saúde para o bairro. Essa praça servirá tanto como espaço de transição entre a rua e o edifício bem como será um marco de transição entre o eixo urbano de edifícios institucionais e os edifícios residenciais localizados ao lado. 

FLEXIBILIDADE E EXPANSIBILIDADE

Em uma edificação nova hospitalar deve-se considerar que a flexibilidade dos ambientes e a possibilidade de expansão são fatores muito importantes para ser considerados, afinal o hospital é um organismo vivo que está sempre sofrendo mudanças com o tempo, sejam elas por conta de novas tecnologias ou novos processos operacionais. A maior premissa enfrentada hoje, após COVID-19, é o crescimento futuro, rápido e, acima de tudo, eficiente das edificações de saúde.   

O modelo de organização proposto, baseou-se na tipologia pavilhonar, criando eixos de crescimentos, tanto no sentido horizontal como na vertical. Além disso, todo o hospital é modularizado de forma em que todas as estruturas sejam padronizadas, eficientes e adaptáveis a quaisquer novas necessidades que possam surgir ao empreendimento. Isso garante um CAPEX reduzido e traz flexibilidade e expansibilidade para o futuro crescimento ordenado na adoção de novas tecnologias. 

Os principais ganhos estão no centro cirúrgico, no bloco de apoio e no ambulatório, setores que necessitam que sua expansão seja facilitada de modo a se evitar grandes intervenções na edificação garantindo a continuidade da operação hospitalar. 

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Figura 5. Eixos de Expansão Fonte: Autoria Própria - Pró-Saúde

FACHADA

Por estar localizado em um bairro planejado e altamente tecnológico, a proposta para a fachada busca além de valorização da marca Unimed, também agregar modernidade ao entorno. Assim desenvolvemos em seu estudo inicial, uma fachada interativa, que possibilita a mudança de cor de alguns dos elementos de acordo com a necessidade, viabilizando campanhas e eventos comemorativos, na fachada da edificação.  

Além disso, tais elementos permitem que as pessoas possam perceber a vida acontecendo dentro deste edifício mostrando que ela habita a edificação. Eles se encontram acumulados próximos à esquina, trazendo peso e valorização á ela estabelecendo uma comunicação com os moradores e os usuários do bairro. É ativa, valorizando e se comunicando de forma dinâmica oferecendo uma identidade durante o dia e se tornando um marco durante a noite.  

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ARAUJO, Eliete de Pinho; SUZUKI, Flávia Hissaemi – Instalações Prediais para Estabelecimentos de Saúde, Rio Books, Rio de Janeiro, 2021

BROSS, João Carlos – Os espaços de saúde no amanhã, Editora Rio Books, Rio de Janeiro, 2021.

CAIXETA, Michele; CAMELO, Gabriela; FABRICIO, Márcio. Codesign e arquitetura para a saúde. In: CAMELO, Gabriela; SOUZA, Márcio; BITENCOURT, Fábio. Arquitetura para ambientes de serviço de saúde. Editora Rio Books, Rio de Janeiro, 2021.

FUTURE WORK PLACE ACADEMY – Future Workplace Wellness Study, 2019.

MENDES, Ana Carolina Potier – Plano Diretor Físico Hospitalar- Uma abordagem metodológica frente a problemas complexos, Editora Kan, Londrina, 2018.

STRONG, B.Sc.(Hons.), D.Phil.(Oxon.), C.Eng. FCIBSE, FEI – Os benefícios da luz natural nos edifícios de assistência médica, 2012.

TOLEDO, Luiz Carlos – Feitos para curar – Arquitetura hospitalar e o processo projetual no Brasil, Rio books, ABDEH, Rio de Janeiro, 2016. 

VILLAROUCO, Vilma; FERRER, Nicole; FONSECA, Julia, GUEDES, Ana Paula, – Neuroarquitetura – A Neurociência no ambiente Construído, RioBooks, 2021.