A arquitetura é uma das formas de comunicação que mostra características e história de um lugar, de uma cultura, de um tempo. E isto não é (ou não deveria ser) diferente nas edificações hospitalares. O primeiro hospital legitimamente brasileiro surgiu por volta de 1545, ano de inauguração da Santa Casa de Santos (SP), fundada por Braz Cubas. De lá para cá, ser passaram quase 500 anos de história e se tivéssemos por hábito a preservação das construções teríamos em mãos edificações carregadas de valores culturais, sociais e urbanos intrínsecos à sociedade da qual surgiram. Infelizmente, a maioria destas edificações já foi modificada, transformada e, poucas vezes, restaurada.
Estas estruturas, dedicadas à prestação de serviços de saúde, são altamente volúveis, como explica o arquiteto Eduardo Nishitani. “Percebemos que as edificações hospitalares estão se transformando cada vez mais rapidamente, exigindo que a construção que os abriga ofereçam condições adequadas para tal. Porém, adequar construções que contém baixa maleabilidade como os edifícios históricos pode não ser uma tarefa muito simples”, pontua.
A tarefa não é simples, o que é muito diferente de dizer que ela é impossível ou não deve ser executada. Preservar edificações históricas é um caminho inteligente e necessário. “Modernizar um hospital e preservar a história, assim como seus valores congênitos, pode parecer ações contraditórias, porém a Carta de Atenas, de outubro de 1931, não apenas previu este tipo de situação como recomendou: ‘…Que se mantenha uma utilização dos monumentos, que se assegure a continuidade de sua vida, destinando-os sempre a finalidades que o seu caráter histórico ou artístico’”, destaca Eduardo.
O arquiteto cita ainda outro documento, a Carta de Veneza, de maio de 1964, que em seu artigo 4º traz o seguinte texto: “A conservação e a restauração dos monumentos exige, antes de tudo, manutenção permanente”. Cuidar sempre para ter sempre, este é um dos lemas, aliado ao conhecimento técnico no assunto.
“É essencial entender as particularidades dos valores culturais dos tombamentos históricos assim como a agilidade da atualização tecnológica pertinente à ciência. Neste contexto, é imprescindível que um profissional que entenda a dualidade desta edificação assuma a frente para evitar perdas de ambos os lados”, atesta.
Integrante da equipe da Pró-Saúde, Eduardo ressalta que todo trabalho que envolve uma construção histórica deve, prioritariamente, começar por uma investigação histórica e documental. “Este estudo vai fundamentar e direcionar as intervenções que serão propostas para aquela edificação. Após esta etapa, todo o desenvolvimento projetual segue unindo ambas as polaridades de preservação e modernização”, explica.
Fachadas históricas não impedem que a tecnologia entre em suas edificações. Com conhecimento técnico e habilidade, ambos podem caminhar juntos, oferecendo serviço de qualidade e história.