Em tempos de distanciamento social, muito se ouve falar em Telemedicina ou Telessaúde. Essa prática da medicina já vem sendo aplicada em alguns setores da saúde e pode contribuir neste momento onde a ordem é evitar sair de casa. Mas há desafios a serem vencidos.
“Em um país de tamanho continental e situações socioeconômicas diversificadas como o nosso, é preciso pensar que o sistema de saúde tem que abranger todas as regiões que necessitem de atendimento e quando falamos em teleatendimentos precisamos ainda romper barreiras culturais e tecnológicas”, antecipa Francine Soares, arquiteta da Pró-Saúde.
O conceito de Telemedicina surgiu na década de 60 e na literatura existem diversas definições para ele. “Em síntese poderíamos dizer que consiste no uso da tecnologia para possibilitar os cuidados à saúde nas situações em que a distância é um fator crítico. Funciona através da combinação de equipamentos digitais, softwares, plataformas, internet e especialistas qualificados, com o intuito de aumentar a acessibilidade dos pacientes a resultados de exames, laudos e tratamentos sem a necessidade do deslocamento, é o que resumiríamos como atendimento on-line ou digital, sem a presença física do especialista em saúde”, diz.
Atualmente, algumas práticas são comuns, como a utilização de prontuários eletrônicos, marcação de consulta por aplicativos e envio de resultados de exames laboratoriais por e-mails. “Na medicina diagnóstica também temos exemplos, onde um exame executado por um técnico ou agente de saúde é salvo em uma nuvem possibilitando que o médico especialista gere o laudo que será enviado ao médico responsável e pacientes por meios digitais para sua avaliação”, completa a arquiteta.
Além desses exemplos, em muitos países já foi implementado o atendimento remoto como uma forma de extinguir o deslocamento de pacientes e médicos e, consequentemente, diminuir a pressão nos sistemas de saúde. “No Brasil, a resolução 2.226/18 previa a regulamentação da Telemedicina para o uso em consultas a distância, mas após muitas críticas ao texto a resolução foi vetada em 2019. Porém, com o aumento exponencial de casos do COVID-19 e a urgência de que a população diminua a circulação em lugares públicos, a Portaria 467/2020 foi criada e regula os atendimentos remotos enquanto durar o combate a pandemia”, detalha Francine.
Alguns estudiosos defendem que a ampliação da telemedicina para os atendimentos remotos traria a possibilidade de uma reorganização bastante positiva ao sistema de saúde. O professor Chao Lung Wen, chefe da disciplina de Telemedicina da Universidade Estadual de São Paulo disse, em entrevista a um portal online de saúde, que “quando se evita que pessoas humildes tenham que pegar condução por horas para ir ao hospital para um atendimento de 15 minutos; quando desafogamos os prontos-socorros para que a equipe médica possa duplicar ou triplicar o tempo disponível para cuidar de pessoas que precisam de atenção; quando se minimiza erros de condutas pela disponibilização de uma rede de especialistas (…)” estaríamos valorizando a humanização no contato entre paciente-médico.
Para que isso aconteça, é necessário que a equipe receba treinamento adequado para o atendimento a distância do paciente, bem como os recursos humanos e haja também uma estratégia de logística de acesso aos serviços de saúde. “Apesar da nova portaria não fazer menção a equipamento, plataforma ou suporte específico para atendimento do paciente, fica como responsabilidade do profissional garantir a autenticidade, a integridade, a segurança (uso de criptografia) e a privacidade das informações médicas”, ressalta Francine.
A regulamentação definitiva da Telemedicina no Brasil possivelmente trará inúmeros ganhos tanto para pacientes quanto para profissionais da saúde. “Sabemos que ainda há muitas barreiras para serem vencidas, como a educação desses profissionais que farão o atendimento e também da população que precisará ampliar seus conhecimentos e acessos a equipamentos tecnológicos que permitirão que o atendimento seja feito com excelência. Muitos profissionais acreditam que a criação da portaria emergencial por conta do combate ao COVID-19 seja o caminho sem volta para regulamentação definitiva da Telemedicina no Brasil, certamente teremos uma grande evolução nessa prática que facilitará o acesso a um maior numero de pessoas ao Sistema de Saúde”, conclui a arquiteta, especialista em gestão, planejamento e projetos para centros de saúde.
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Referências:
Chao, Lung Wen. Telemedicina e Telessaúde – Um panorama no Brasil . Acessado em maio/2020.
Leituras Complementares:
Ferrari, Cesar A. R. Eficiência e eficácia das inovações em Telemedicina nas práticas hospitalares : um estudo de caso no Brasil. Acessado em maio/2020.
Chao, Lung Wen. Telemedicine: a health strategy for the 3rd decade of the 21st century. Acessado em maio/2020