Arquitetura e hospitais especializados

As últimas décadas foram de muitas mudanças na área da saúde. O que antes se restringia à profissão “médico” ganhou especialidades e até subespecialidades, aprimorando o atendimento e gerando profissionais com maior capacitação. Esta tendência seguiu para os hospitais. Antes eles eram divididos em hospitais para procedimentos de baixa, média ou alta complexidade e equipados para tal. Hoje, além destas especificações, temos hospitais focados em uma única especialidade. Este é o caso do Hospital de Olhos Londrina, inaugurado este ano.

Focado exclusivamente na oftalmologia, o local foi projetado pela Pró-Saúde em parceria com o escritório CF Arquitetura, responsável pelo projeto de interiores. “O hospital atende todas as necessidades de um local focado em procedimentos cirúrgicos e a laser, tendo como diferencial o fato de atender exclusivamente procedimentos oftalmológicos. Toda a estrutura do centro cirúrgico, desde os espaços até a tecnologia, é focada nesta especialidade”, diz Eduardo Nishitani, arquiteto da Pró-Saúde.

A obra tem detalhes tecnológicos que facilitam o dia a dia dos cirurgiões, elevam a segurança e trazem, ao mesmo tempo, um ar de modernidade ao local. “As portas de acesso ao centro cirúrgico são abertas por sistema de sensores acionados pela palma das mãos, o mesmo usado para abrir as torneiras do centro cirúrgico. Isso evita o contato da mão com o ambiente e, consequentemente, uma das formas de contaminação no ambiente hospitalar”, cita Mariana Dias, também arquiteta da Pró-Saúde.

O piso utilizado no centro cirúrgico é o vinílico condutivo, que atende às mais altas exigências do segmento, evitando descargas eletrostáticas, de modo que o risco de mau funcionamento ou desconforto do equipamento durante as cirurgias seja drasticamente reduzido, garantindo também a segurança do paciente. A mesa cirúrgica pode ter sua direção movida por sistema eletrônico, mudando de angulação, o que traz facilidades para o cirurgião. “Além disso, o sistema de ar-condicionado foi projetado obedecendo todas as normas de segurança da Anvisa. A climatização deste ambiente tem várias normas a serem seguidas para garantir as condições necessárias da qualidade do ar bem como o fluxo do mesmo visando a segurança com um sistema exclusivo de filtragem”, completa Eduardo

As saídas de emergência possuem portas largas e de fácil acesso. “O hospital fica dentro de uma galeria comercial e tem saídas facilitadas em caso de urgência. Toda a sinalização facilita o processo, além das portas estrategicamente posicionadas. A porta de saída do centro cirúrgico está no mesmo corredor da saída da clínica, sendo fácil e rápido de ser usada em uma emergência médica ou em caso de incêndio” diz Mariana.

Em caso de uma emergência e a necessidade de transportar o paciente para um outro hospital, o projeto prevê uma saída rápida do centro cirúrgico, com portas largas e rota de saída já prevista pela área comercial do prédio e conduzido até a saída principal, onde uma ambulância estará aguardando o paciente.

Salas de recuperação completam a estrutura, que tem ainda espaço para exames oftalmológicos. “Hospitais especializados já são uma realidade atual, crescendo vertiginosamente conforme a ciência avança e nos garante tecnologias cada vez mais direcionadas. Eles são projetados exatamente para especificidades da medicina, sendo mais efetivos e seguros. Eles minimizam intercorrências como infecções hospitalares quando públicos específicos não são misturados entre si”, conclui Eduardo.

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Humanização em UTIs

Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) são locais de muito cuidado e atenção. Há pacientes em situações especiais ali que precisam não só dos conhecimentos técnicos da medicina e da enfermagem como de um ambiente físico adequado para estar. “A arquitetura pode contribuir na humanização destes espaços”, antecipa a arquiteta Carolina Chedraoui, da Pró-Saúde.

De acordo com ela, a humanização parte do princípio de que o paciente precisa ser observado com uma visão global, contemplando todas as necessidades, físicas, emocionais e até espirituais. “Quando se fala em ambientes, podemos pensar em vários aspectos que vão tornar a estada dele na UTI mais leve. Iluminação e climatização adequadas, por exemplo, fazem parte do projeto de uma UTI humanizada. Há hospitais com projetos que contemplam paredes de vidro para que a luz natural possa entrar, desta forma os pacientes podem observar a luz do dia, saber se choveu, ver como está a noite”, cita Carolina.

Ela completa que a ideia de estar em uma UTI costuma gerar estresse, ansiedade e sensação de isolamento no paciente, por isso, quanto mais recursos puderem ser usados para trazer leveza e gerar bem-estar, melhor. “Hospital, ao contrário do que está no senso comum, é um local de hospitalidade, ou seja, de se sentir acolhido, este é o significado da raiz da palavra. Fazer com que o paciente se sinta bem ajuda no processo de recuperação dele. Podemos usar de vários recursos como jardins, quadros e cores para acolher este paciente que está na UTI”, garante Carolina.

A humanização ganhou força neste século, reforçando que a edificação hospitalar pode contribuir no processo de cura. “Entender as necessidades do paciente do ponto de vista físico e técnico da medicina, somado às suas necessidades como indivíduo, é tarefa da equipe que projeta o espaço. Quando se reduz o estresse, o tempo de internação também tende a ser menor. Todos ganham com espaços e atendimento humanizados”, conclui a arquiteta.

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Fachadas com vidro podem ser um diferencial nos hospitais

A arquitetura hospitalar ganhou novas roupagens e funções nos últimos anos. Unindo beleza e modernidade, preocupação com o meio ambiente e funcionalidade, novos materiais foram sendo incorporados a estas edificações. Um exemplo é o vidro. “O uso do vidro em fachadas de edificações de saúde se tornou uma tendência devido à busca da estética e modernidade para os novos hospitais. Entretanto estas grandes fachadas de vidro só se tornam um benefício para o usuário quando ela gera uma relação com o exterior e a natureza, promovendo diversas sensações como distrações positivas”, antecipa a arquiteta Carolina Chedraoui, da Pró Saúde.

Na visão dela, o uso do vidro traz de benefícios aos usuários do local. “O uso do vidro pode gerar distrações positivas dependendo do que se pode ver através dele como, por exemplo, se tiver um jardim ou algum elemento artístico que possa gerar sensação de paz e conforto dentro do ambiente, criando uma relação interior/exterior”, pontua. Ter acesso a esta visão privilegiada, ao invés de apenas paredes, traz mais conforto a pacientes e equipe de saúde.

O melhor aproveitamento da luz natural é outro benefício das fachadas de vidro. Elas permitem que a iluminação externa entre no ambiente, reduzindo a necessidade de luz artificial. Há muitos materiais disponíveis, sendo preciso estudar a necessidade de cada edificação para escolher o ideal. Há vidros que isolam o calor que vem da área externa e do sol, outros reduzem os ruídos, eles podem ser espelhados, coloridos, enfim, há muitas utilidades e funções que escolhemos de acordo com o perfil e local onde ele será colocado.

Existem inclusive vidros para situações especiais, como vidro plumbífero que protege os médicos e técnicos quando da realização de exames de imagem, eles trazem segurança às salas de raios X, tomografia e outras que utilizam o mesmo tipo de radiação ionizante.

A beleza que o vidro agrega à edificação é um benefício a mais. “O vidro é muito versátil e pode proporcionar conforto acústico e luminoso além de humanizar o local. Por isso ele vem ganhando destaque na arquitetura de um modo geral, inclusive na arquitetura hospitalar”, conclui Carolina.

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Hospital requer planejamento

Instituições complexas, os hospitais devem ser projetados de forma a não engessar suas estruturas, permitindo que se ele­s se atualizem, ampliem ou adotem novas tecnologias sempre que isto se faz necessário. Adotar plantas flexíveis e projetos para médio e longo prazo são fundamentais para manter a saúde financeira e a viabilidade da instituição. Neste aspecto, a arquiteta Mariluz Gomez Esteves aponta que o projeto deve sempre pensar no presente, contemplando o que virá no futuro. “A área da saúde está em constante evolução, não devemos nunca ignorar esta natureza quando projetamos uma edificação. Este planejamento traz otimização de recursos, redução de custos e qualidade na prestação do serviço”, atesta.

O Plano Diretor Hospitalar é outro elemento fundamental para os estabelecimentos de saúde. “Complexos de saúde geram alteração no tráfego tanto de veículos como de pessoas. No Plano Diretor Hospitalar direcionamos sobre como deverá ser o tamanho da edificação, os afastamentos obrigatórios, as áreas de embarque e desembarque, enfim as regras viárias a serem adotadas respeitando o zoneamento da cidade”, explica. Seja a instituição pública ou privada, todas precisam se adequar às mudanças. “Tudo isto precisa estar previsto no projeto inicial da edificação e no plano diretor”, destaca Mariluz.

A natureza de um complexo de saúde difere da maioria das edificações, tendo uso e regras específicos. “O projeto deve contemplar tudo isso, pensar na infraestrutura física e administrativa do estabelecimento de saúde bem como a parte financeira, aspectos culturais, epidemiológicos e socais. É todo um estudo que é realizado para planejar e projetar aquele estabelecimento para o presente e para o futuro garantindo que ele seja sustentável. Temos que ter em mente que as instituições de saúde evoluem e por isso as edificações precisam estar abertas para acompanhar as mudanças, assim como o corpo clínico e a área administrativa”, completa.

Mariluz finaliza lembrando que hoje os hospitais são empreendimentos empresariais e por isso precisam não só pensar na qualidade do atendimento como na correta utilização dos recursos para serem viáveis. “Quem não se atentar para a exigência de ter um ‘hospital do futuro’ poderá enfrentar dificuldades”, conclui.